por Marina Barbatovci-Oliveira, bolsista de pesquisa do NUPEC
As eleições de 2018 tiveram um papel significativo na transformação das relações familiares mediadas por grupos de Whatsapp na última década. Isso por que, devido a ausência do ideal de presença no ambiente virtual, criou-se um ruído na comunicação entre os parentes, nunca visto antes, ocasionando conflitos irremediáveis, que perduram até hoje modificando o próprio ideal de família.
Nas eleições de 2018, o candidato Jair Bolsonaro fez uso massivo da propagação de notícias falsas por parte de seus eleitores, para sua ascensão. Os membros dos grupos familiares que eram adeptos ao ex-presidente, atuavam como agentes de propagação destes conteúdos, principalmente nos grupos de família. Porém, ao entrar em contato com ideias divergentes, a tendência era (e ainda é) de conflito e consequente rompimento de relações.
A pesquisa conduzida pelo Núcleo de Pesquisa em Educação e Cibercultura e financiada pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), sob coordenação do Prof. Breno Alencar (IFPA), mostra que esses conflitos resultaram em tensões, xingamentos, expulsões, saídas e até mesmo bloqueio de contato no aplicativo de mensagem WhatsApp, o que se estendeu também para redes sociais virtuais, como Facebook e Instagram. Não raro esses conflitos e rupturas no mundo virtual também se exprimiam no afastamento do convívio e na residência a conversas em momentos presenciais.
Contudo, a pesquisa também demonstra que tanto os conflitos como as rupturas nas relações familiares se expressam na forma de hierarquizações entre os membros da família a partir de critérios de ascendência, geração e renda, com tendência de tios e/ou primos mais velhos, a atuarem para a exclusão de membros do grupo.
Essa hierarquia nos grupos de família virtuais, é reflexo do papel que a família exerce na sociedade, nas disputas de poder que ela possibilita, uma vez que a dinâmica familiar reflete a formação da sociedade na qual está inserida, onde parcelas dominantes têm poder para mediar o que pode ser dito ou não.
🇬🇧 Since 2018, family relations in cyberspace have been strained. The reason is political and ideological differences between voters and supporters of Jair Bolsonaro and the Partido dos Trabalhadores. In the WhatsApp messaging application, these tensions are responsible for swearing, accusations, threats, expulsions, and even blocking between family members. But the family groups also indicate that there are hierarchizations based on kinship relations among their members.
🇪🇸 Desde el año 2018 las relaciones familiares en el ciberespacio son muy tensas. La razón son los enfrentamientos políticos e ideológicos entre los votantes y partidarios de Jair Bolsonaro y el Partido de los Trabajadores. En la app de conversación WhatsApp estas tensiones son responsables por insultos, acusaciones, amenazas, expulsiones y hasta bloqueos entre familiares. Pero los grupos familiares también indican que existen jerarquías basadas en las relaciones de parentesco entre sus miembros.
Referência
ANDRADE, A. N. Novas interações sociais e a crise dos afetos: estudos sobre as desavenças familiares nos grupos de WhatsApp no contexto da polarização política de 2018. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Informação em Ciências e Tecnologia, Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, Rio de Janeiro, 2020.
