COR
04 - horizontal cores 2

A cultura do cancelamento em outros países

Publicado por:

por Ana Beatriz Veiga, bolsista de iniciação científica do Nupec

A cultura do cancelamento serve como uma “régua moral” que vigia ações e atitudes de artistas, políticos, marcas, produtos e empresas em relação às pautas identitárias contemporâneas, que visam a nobre missão de desconstruir antigos preconceitos intrínsecos na sociedade.

Neste sentido, comportamentos moralmente questionáveis são alvos de manifestações nas redes sociais, principalmente entre celebridades associadas ao entretenimento. É método passa sempre pela punição e ostracismo através do discurso e, não raramente, por meio de práticas como o boicote, a demissão ou a perda de patrocínio do sujeito que é alvo do cancelamento. 

A cultura do cancelamento, contudo, não teve seu inicio no Brasil. A expressão “cancelamento” surgiu nas redes sociais em 2017 através do movimento #metoo e de suas hashtags que denunciavam o  assédio sexual em Hollywood e o abuso sofrido por mulheres no mundo todo. A partir daí, o movimento ganhou mais força, os acusados pelos assédios e abusos foram condenados ou boicotados em seus trabalhos e cancelados na internet.

Entre os casos internacionais mais relevantes está o cancelamento do diretor norteamericano Woody Allen, cujo lançamento de sua biografia fora cancelada após fortes críticas nas redes sociais e de funcionários da editora Hachette. Allen foi acusado de abusar sexualmente de sua filha adotiva Dylan Farrow quando ela tinha sete anos. Ele nega a acusação. O diretor também perdeu um contrato estimado em US$ 68 milhões com a Amazon, responsável pela distribuição de seus filmes.

Na nossa vizinha Colômbia, o caso mais recente foi o do Carnaval Fest 2022 organizado em Medelín mas que teve seus shows cancelados devido à desistência de várias bandas e à pressão social exercida nas redes contra o baterista da banda Tr3sdeCorazón Andrés Felipe Muñoz, acusado de fornecer um medicamento abortivo a sua então namorada, Milena Uribe, sem seu consentimento.

Na África do Sul, um dos alvos foi o jornalista Gareth Cliff que ao entrevistar Mudzuli Rakhivhane do One South Africa (SA) Movement e John Steenhuisen da Democratic Alliance (DA), em seu programa The Burning Platform, criticou a utilização do racismo como plataforma política pelos candidatos na campanha pelo governo local era um erro, uma vez que a verdadeira preocupação da população era a prestação de serviços 

Na China, por sua vez, o caso mais famoso de cancelamento recente foi o boicote à marca Dolce & Gabbana. O motivo foram a publicação de vídeos curtos lançados pela empresa de moda na rede de mídia social, Weibo, para promover na passarela o que na visão da população era uma extravagância: um vídeo de uma mulher asiática tentando comer cozinha italiana usando pauzinhos enquanto o narrador tentava explicar a maneira correta de comer esses pratos – tudo isso enquanto pronunciava a marca de uma maneira que tentava ridicularizar o inglês com sotaque chinês. 

🇬🇧 The culture of cancellation serves as a “moral ruler” that watches over the actions and attitudes of public figures in relation to contemporary identity agendas. The culture of cancellation, however, is not exclusive to Brazil. Among the most relevant international cases is the cancellation of U.S. director Woody Allen, Colombian drummer Andrés Felipe Muñoz, South African journalist Gareth Cliff, and the Dolce & Gabbana brand in China.

🇪🇸 La cultura de la cancelación sirve de “regla moral” que vigila las acciones y actitudes de los personajes públicos en relación con las agendas identitarias contemporáneas. Sin embargo, la cultura de la cancelación no es exclusiva de Brasil. Entre los casos internacionales más relevantes está la cancelación del director norteamericano Woody Allen, el baterista colombiano Andrés Felipe Muñoz, del periodista sudafricano Gareth Cliff y de la marca Dolce & Gabbana en China.

Referências

CRUZ, A. Cultura de la cancelación o de las consecuencias: el caso del Carnaval Fest 2022. 6 de fevereiro de 2022. Disponível em https://razonpublica.com/cultura-la-cancelacion-las-consecuencias-caso-del-carnaval-fest-2022/

LEE, A. Cancel culture in Asia. Durham Pro Bono Blog, Jun 25, 2021. Disponível em https://www.durhamprobonoblog.co.uk/post/cancel-culture-in-asia

MAJOZI, P. Nando’s chickened out to ‘cancel culture’. BizNews, 27 de outubro de 2021. Disponível em https://www.biznews.com/undictated/2021/10/27/nandos-cancel-culture

HARTMANN,M. Relembre nove casos recentes de famosos “cancelados“. GTZ Comportamento. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2020/09/relembre-nove-casos-recentes-de-famosos-cancelados-ckf76mfwg0065014ryu0cjgeq.html

BESSA, Liz. Cultura do cancelamento. Politize!. Disponível em: https://www.politize.com.br/cultura-do-cancelamento/

CARVALHO, Felipe. 2021 e a cultura do cancelamento: ano em que mais se discutiu sobre rejeição online. CNN Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/2021-e-a-cultura-do-cancelamento-ano-em-que-mais-se-discutiu-sobre-rejeicao-online/

Compartilhe

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn
Veja mais

Publicações relacionadas