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Discurso de ódio contra mulheres nas redes sociais online

Publicado por:

Kirla Ferreira

Em outubro de 2023, iniciamos as atividades do Projeto de Pesquisa “Discurso de Ódio contra mulheres nas redes sociais”, aprovado nos Editais 09 e 10/2023 PROPPG-IFPA/FAPESPA, que tem como objetivo compreender significados sociais sobre o discurso de ódio proferido nas redes sociais no Brasil e que tem como vítimas as mulheres. Ele se configura como uma das formas de violência praticadas contra as mulheres nas redes sociais, assim como ciberstalking, exposição de dados pessoais e exposição indevida de imagens íntimas, segundo o Relatório Violências contra a Mulher na Internet, publicado em 2017 e organizado pela Coding Rights e Internetlab.

Luiz Valério Trindade em “Discurso de Ódio nas Redes Sociais”, publicado em 2022 pela Coleção Feminismos Plurais, afirma que o discurso de ódio se refere a uma prática que tem se tornado comum nas redes sociais, que é a de se transmitir conteúdos ideológicos de preconceito, xenofobia, misoginia e racismo a indivíduos ou grupos minoritários. Em sua pesquisa, o autor destaca que muitas pessoas se amparam na falsa ideia de anonimato das redes sociais para não serem responsabilizadas pelos ataques, assim como na de que estão expondo uma opinião. Neste contexto, as mulheres negras jovens e em ascensão social são os alvos recorrentes dos ataques.

O referido autor destaca, ainda, que destilar sentimentos de ódio contra mulheres nas redes sociais revela uma ação intencional de colocá-las, ainda que simbolicamente, em um lugar de subalternidade e inferioridade social, o que está ligado ao processo de formação da identidade social e política do Brasil e seu passado colonial e escravocrata. O autor utiliza a metáfora de considerar as redes sociais como um pelourinho (lugar de castigo público às pessoas escravizadas no período colonial) moderno, em que o discurso de ódio funciona como um chicote virtual nas pessoas negras para que não estejam ali. O ódio é um sentimento que sempre esteve presente na sociedade, conforme alerta o autor, que é potencializado com as tecnologias de comunicação.

Quando lançamos um olhar para os comportamentos de preconceito e intolerância contra mulheres nas redes sociais, precisamos acrescentar a categoria gênero. Joan Scott, historiadora pioneira no uso da categoria de gênero nas ciências humanas, afirma que o gênero é uma das formas primárias de constituição das relações sociais, presente em todas as épocas históricas, mas com diversos significados sociais, e que estão intimamente ligadas com relações de poder e subordinação.

Em se tratando das formas de violência de gênero na internet, o Mapa da Violência Política de Gênero em Plataformas Digitais, conduzido pelo Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia (coLAB), da Universidade Federal Fluminense, publicado em 2023, tratou dos ataques às deputadas e senadoras no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube no ano de 2021. Insultos, invalidações e críticas são os temas mais abordados nos ataques contra as parlamentares. Há também comentários em forma de sátira e humor, que tentam ofuscar o tom jocoso e irônico dos ataques. A motivação desses ataques é principalmente ideológica, que mostra radicalização política e extremismos, pois são as parlamentares de partidos de esquerda as mais atacadas, em comparação àquelas de partidos de direita. O referido relatório diz haver articulação entre misoginia, LGBTQIAPN+fobia e racismo como conteúdo das ofensas, principalmente no Facebook…

Assim, partiremos de uma visão interserccional sobre mulheres, que deriva do feminismo negro ao romper com uma ideia universal de mulher, mas, ao contrário, busca analisar gênero em articulação à classe, raça/etnia e orientação sexual, conforme nos mostram Chimamanda Adichie, Carla Akotirene, bell hooks, Patricia H. Collins. Ao seguir uma leitura do feminismo negro, como orientação teórico metodológica, pretendemos pensar outras dimensões do feminino, em articulação com gênero, sexualidade, raça/etnia, mulheres que vivem com deficiência, a fim de compreender o olhar sobre mulher que esses discursos de ódio combatem e, ao mesmo tempo, entender o lugar social pensado para elas.

Se ele acontece nas redes sociais, um espaço de visibilidade em voga na sociedade atual, se ataca os direitos adquiridos por grupos historicamente subalternizados, nossa problemática, portanto, é entender se o discurso de ódio contra as mulheres é (ou tenta ser) um desdobramento da história patriarcal do Brasil? Quem sai ganhando com ele?

🇬🇧 The research project titled ‘Discurso de ódio contra mulheres nas redes sociais’ (loosely translated as “Hate Speech Against Women in Social Media”) aims to understand the social implications of hate speech targeting women present in Brazilian social media. The research stems from an intersectional perspective of womanhood, which seeks to analyse gender alongside social class, race/ethnic background and sexuality.

🇪🇸 El proyecto de investigación «Discurso de ódio contra mulheres nas redes sociais» (en traducción libre, ‘Discurso de odio contra las mujeres en las redes sociales’) busca comprender las significaciones sociales del discurso de odio proferido en las redes sociales en Brasil que victimiza a las mujeres. La investigación parte de una visión interseccional del vivir femenino, la cual busca analizar el género al lado de las nociones de clase, raza/etnia y sexualidad.

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