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VIII Reunião de Antropologia da Ciência e da Tecnologia

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Inventariar vidas tem sido uma prática recorrente da Ciência, do Capital e do Estado, seja em termos de espécies a serem conhecidas, classificadas e catalogadas, produtos a serem desenvolvidos e comercializados ou populações a serem governadas e reguladas. Seres dos mais diversos são quantificados e inseridos em cadeias de produção, convertidos em trabalho precário, insumos, mercadorias e dados. Indústrias e conglomerados financeiros contabilizam florestas em papeis, títulos, cifras e ativos que circulam em escala global. Processos de capitalização movimentam fluxos por toda a parte, conectando o pangolim chinês às ações da indústria farmacêutica, o RNA mensageiro às tecnologias da informação, mutações de vírus à expansão contagiante de ideologias políticas ultraconservadoras.

Com o lastro arrancado da Terra desenham-se gráficos e equações em bolsas de valores, predições econômicas e futuros incertos. Novos estratos geológicos se fazem dos ritmos entrelaçados e dissonantes de mercados e sistemas ecológicos. Das marcas que se estendem pelas paisagens – microbiológicas, geológicas, cosmológicas – urge a necessidade de pensar e experimentar coletivamente outros devires possíveis, relacionalidades em conexão com a Terra, inventários alternativos e alianças pautados por conhecimentos que levam em conta negociações e histórias para além do humano.

É preciso mais do que nunca explicitar, a partir da antropologia da ciência e da tecnologia, os dispositivos sociotécnicos que conferem materialidade ao capitalismo tecnocientífico, que transforma a Terra em recursos e sujeita relações outras-que-humanas à lógica do capital. E fazê-lo junto com críticas feministas que enfatizam como o capitalismo tecnocientífico toma corpo não como um fenômeno coerente e totalizante, mas por meio de projetos divergentes e fragmentados, frequentemente instáveis, inacabados e em risco. Junto com críticas pós-humanistas, que nos relembram de mundos mais que humanos em coabitação, das redes de conexões com a Terra, das relações que criam possibilidades de vida a partir de um processo mutante, de colaborações, transformações e devires. Junto também com críticas decoloniais à geopolítica global do capitalismo tecnocientífico, que explicitam os efeitos desiguais da devastação planetária e o racismo ecológico que se escancara em periferias, quebradas, beiras de rio, quilombos e terras indígenas. Junto com críticas animalistas, que propõem maneiras radicalmente inovadoras e antiantropocêntricas sobre o estar no mundo. Junto, por fim, com críticas indígenas e de povos tradicionais ao modo de vida capitalista, que nos oferecem um futuro possível por meio de alianças plurais e formas alternativas de se fazer, pensar e viver.

Como a antropologia da ciência e tecnologia no Brasil pode ajudar a construir uma compreensão crítica do capitalismo tecnocientífico? Como diálogos cruzados entre conhecimentos científicos e tradicionais podem contribuir para a emergência de  mundos em que os privilégios de certos humanos não devastem os modos de vida da multidão de outros humanos e outros-que-humanos? Como a atenção a composições multiespecíficas permite vislumbrar relacionalidades em conexão com a Terra? Como alianças estratégicas podem fazer brotar futuros possíveis que levem em conta  temporalidades entrelaçadas e convivialidades mutuamente constituídas?

Convidamos a todas e todos a fazer desta edição pandêmica e online da ReACT um lugar de encontro que possa repovoar nossa imaginação, não com modelos, mas com possíveis diálogos cruzados, conexões e alianças entre as críticas antropológica, feminista, pós-humanista, animalista, decolonial e indígena ao capitalismo tecnocientífico.


Comitê Científico

Ana Cláudia Rodrigues – Departamento de Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 

Carlos Emanuel Sautchuk – Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília (UnB)

Daniela Tonelli Manica – Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, Universidade de Campinas (Unicamp)

Eduardo Viana Vargas – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Eliana Junqueira Creado – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Fabíola Rohden – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Guilherme José da Silva e Sá – Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília (UnB)

Joana Cabral de Oliveira – Departamento de Antropologia, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

João Paulo Lima Barreto Tukano – Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Leticia Cesarino – Departamento de Antropologia, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Marko S. Monteiro – Departamento de Política Científica e Tecnológica, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Pedro Peixoto Ferreira – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Rafael Devos – Departamento de Antropologia, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Renzo Taddei – Instituto do Mar, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Stelio Marras – Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo (USP)

Suzane Alencar Vieira – Universidade Federal de Goiás (UFG)

Thales Haddad – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Comissão Organizadora – PPGAS-UFSCar

Ana Cecília Campos

Bruno Campos Cardoso

Catarina Morawska Vianna

Felipe Vander Velden

Gabriel Sanchez

Luisa Fanaro

Luisa Tui Rodrigues Sampaio

Identidade Visual

Ion Fernandez de las Heras

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