Relações familiares e política em grupos de WhatsApp nas eleições de 2022 (parte 2)

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por Eduarda Campos, bolsista de pesquisa do Nupec

As eleições presidenciais de 2022, assim como as de 2018, no Brasil ficaram marcadas pela participação massiva das redes sociais digitais num contexto de intensa polarização política. Esse período eleitoral reúne características que nos permitem enxergá-lo como tempo da política, que segundo Palmeira (2010), é o contexto social em que os rituais do calendário eleitoral têm implicações tão objetivas na vida e relações dos indivíduos quanto aquelas presentes no tempo da quaresma, das festas juninas, da copa do mundo ou do natal. Com base nos levantamentos realizados a partir da análise de formulários criados por nossa equipe PROPPG, com projeto intitulado “Parentesco, política e redes sociais: as relações familiares em grupos de Whatsapp no contexto das eleições presidenciais de 2018 e 2022” e respondidos via plataforma Google Forms, majoritariamente entre estudantes do ensino técnico e de graduação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Campus Belém. 

Os conflitos familiares motivados pelo processo eleitoral se intensificaram entre 2018 e 2022, principalmente após a divulgação do segundo turno, em razão desses conflitos, mais da metade dos respondentes informam terem bloqueado ou sido bloqueados por algum familiar e também foi observada a saída ou a expulsão de um parente do grupo de família em virtude do processo eleitoral. O estudo também aponta que 2/3 dos familiares não retornaram ao grupo familiar, e aqueles que o fizeram, demoraram de 6 meses a 2 anos para voltar. Por fim, a pesquisa mostra que a ideologia política do parente que saiu ou foi expulso do grupo de família do WhatsApp é, em sua maioria de esquerda. Devido à polarização ideológica e às disputas de poder político-ideológico no ciberespaço, também identificamos uma hierarquia entre os participantes, onde membros específicos têm o “poder” de remover outros devido a brigas recorrentes englobando esse assunto. 

A família é um lugar de vínculos significativos e um componente importante da saúde mental de seus integrantes. A diversidade e alteridade entre as pessoas de uma família, no entanto, são inevitáveis, e geralmente saudáveis. Porém, nos tempos atuais e digitais, a tolerância à frustração diminuiu bruscamente, já que basta um clique para bloquear qualquer informação divergente da nossa. Assim, criamos uma bolha digital isolada, mas a vida real, presencial, não funciona desta maneira. Os conflitos são importantes transformadores, necessários para colocar a vida social em movimento. Ouvir opiniões diferentes também é importante para nossa construção crítica. A questão é encontrar um equilíbrio, sem varrer os conflitos para baixo do tapete nem colocá-los no centro da mesa, e sim administrá-los das formas possíveis. Mas nem sempre isso é possível.

🇬🇧 The research project entitled Kinship, Politics and Social Networks: Family Relations in Whatsapp Groups in the Context of the 2018 and 2022 Presidential Elections began to outline results. It is perceived that there is a hierarchy of power in Whatsapp groups, which determines who should remain in that environment; ⅔ of those expelled or who deleted themselves did not return. WhatsApp proved to be cyberspace capable of favoring new ways of exercising socio-virtual power.

🇪🇸 El proyecto de investigación titulado Parentesco, política y redes sociales: Las Relaciones Familiares en los Grupos de Whatsapp en el Contexto de las Elecciones Presidenciales de 2018 y 2022 comenzó a esbozar resultados. Se percibe que hay jerarquía de poder en los grupos de Whatsapp, que determina quién debe permanecer en ese entorno; ⅔ de los expulsados o que se borraron no regresaron. WhatsApp demostró ser un ciberespacio capaz de favorecer nuevas formas de ejercicio del poder socio-virtual.

Referências

AZEVEDO, B. S. “Você saiu”: as eleições de 2018 e os conflitos nos “grupos de família” do WhatsApp. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional, Campos dos Goytacazes, 2019.

PALMEIRA, M. Política ambígua. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/NUAP, 2010.

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