Arlindo Figueiredo
O Tambor de Mina é uma religião que prática rituais internos de culto às suas entidades conhecidas como voduns, orixás, nobres e encantados, tendo como principal diferença, em relação às outras matrizes afro-brasileiras, o transe ou processão de espírito de pessoas que viveram nesse mundo, mas não morreram, eles se encantaram.
Ao longo da história do Tambor de Mina na Amazônia sempre se observou a sua ausência nos espaços midiático (mídia impressa, televisão e rádio). O que se propagou das religiões afro-brasileiras na mídia foi uma ideia preconceituosa e discriminatória, sem possibilidade de protagonizar eventos que mostrassem de forma autentica sua tradição ancestral, seus costumes e sua cultura secular.
Com a era midiática, e a possibilidade de criação de conteúdos nas redes sociais, as religiões afro-brasileiras tiveram a liberdade de produzir filmes, documentários, vídeos curtos, e outros produtos áudios visuais, podendo abordar temas variados e mostrar todo o funcionamento de sua doutrina que em outrora lhes fora negado.
Ao analisar a inserção desta religião afro-ameríndia na plataforma YouTube, várias questões foram surgindo, e com elas, outras possibilidades de desdobramentos dessa ampla discussão. A presença do Tambor de Mina na plataforma YouTube acontece de forma diversificada como a louvação as entidades, transmissão ao vivo de festejos, oportunidades de convivência, troca de informações e conhecimentos litúrgicos, oferta de serviços, captação e conversão de novos adeptos, no combate a intolerância e na articulação política inter-religiosa.
Muito embora o campo de estudo da presença religiosa no ciberespaço tenha se voltado especialmente para a análise de grupos hegemônicos no mercado religioso on-line brasileiro, como católicos, evangélicos e espíritas, em detrimento da participação de grupos minoritários. A netnografia aqui desenvolvida pretende contribuir para avançar nessa área ainda pouca explorada das pesquisas sobre a presença das religiões afro-brasileiras no ciberespaço e ressaltar as ligações desse fenômeno com a possibilidade de construção de espaços sociais agradáveis, distante de preconceito e intolerância religiosa, muitas vezes camufladas nos espaços midiáticos.
🇬🇧 Tambor de Mina, though it previously gathered no attention from the media, has found on YouTube a way of showcasing its traditions and festivities, but also of battling prejudice. Its online presence allows for worshipping, live events and the exchange of knowledge and services, besides approaching political and inter-religious issues. In spite of the predominance of studies on hegemonic religions in the cyberspace, netnography highlights the potential of Afro-Brazilian religions in the making of more tolerant and inclusive social spaces.
🇪🇸 El Tambor de Mina, aunque antes no recibiera atención de los medios, ha encontrado en YouTube una forma de presentar sus tradiciones y festividades —pero también de combatir prejuicios. Su presencia en línea permite participar en la adoración, en eventos en directo, así como el intercambio de conocimientos y servicios, además de abordar cuestiones políticas e interreligiosas. A pesar de la predominancia de estudios acerca de religiones hegemónicas en el ciberespacio, la netnografía pone de relieve el potencial de las religiones afrobrasileñas en la construcción de espacios sociales más tolerantes e inclusivos.