A grande pandemia da Gripe Espanhola atingiu o mundo em 1918 deixando mais de 40 milhões de mortos, número cinco vezes maior do que em toda a Primeira Guerra Mundial. Além de mudar costumes e práticas sociais, como a forma com a morte era sentida e ritualizada (ARIÈS, 2012) a doença também afetou a economia e o comércio, forçou o isolamento social e interrompeu o ano letivo em todos os lugares afetados pela doença.
A doença chegou ao Brasil através do Transatlântico Demerara, navio com origem na Inglaterra com passagem por Portugal e que despois atracou nas cidades de Recife, Salvador e Rio de Janeiro de onde o vírus se espalhou pelo restante do país.
As primeiras notícias sobre a contaminação de alunos e professores pela doença no Brasil datam aproximadamente do dia 24 de outubro de 1918 e assim como na pandemia Covid-19, as aulas foram suspensas, escolas foram fechadas, houve o isolamento social e inúmeros professores e alunos foram contaminados com o vírus.
Pensando neste cenário, a pesquisa conduzida pelo graduando do Curso de Licenciatura em História e bolsista de Iniciação Científica (CNPq) do Instituto Federal do Pará, Daniel Carvalho, analisa o impacto dessa pandemia sobre a educação, principalmente depois da edição do Decreto Federal 3603/1918 que suspendeu as aulas em todo o território nacional, mas que foi muito mais fruto de pressão popular do que uma medida utilizada para conter a disseminação do vírus.
Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a pesquisa tem o objetivo de traçar um panorama geral de como a educação brasileira foi afetada por esta doença, e de maneira mais específica abordar os mecanismos político/sociais que levaram à promulgação do referido decreto.
A realização da pesquisa se baseou na consulta a publicações acadêmicas sobre a temática presentes no acervo do Google Acadêmico, bem como a jornais cadastrados no banco de dados da Hemeroteca Digital Brasileira, por meio da combinação de palavras-chave relativas ao tema e com recorte temporal situado entre 1918 e 1919.
Com base nesta metodologia, foram encontradas 140 publicações com o descritor Gripe Espanhola no Brasil, dos quais 20 abrangiam a educação no período 1918/1919. Também foram identificadas 30 matérias em jornais acerca do tema. Para a análise destes dados foi utilizada a revisão bibliográfica, seguida de fichamentos e resumos e, por fim, a análise de conteúdo com base nas recomendações de Lakatos e Marconi (1992) e Bardin (1994), respectivamente.
Com base nisso foi possível traçar um panorama geral dos efeitos da pandemia sobre a educação brasileira, dentre as quais os mais importantes são: a) o ano letivo foi interrompido semanas antes do decreto federal, cuja a promulgação respondeu mais a pressão social do que razões sanitárias e profiláticas, b) não foram apresentadas alternativas ao prejuízo educacional causado pelo recesso escolar; e c) uma parcela dos professores atuou na linha de frente de combate à pandemia, seja entregando doações de alimentos a estudantes e suas famílias, seja colaborando com as enfermarias em que foram transformadas suas salas de aula.
Referências