Black Mirror: Common People

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Arienny Souza, Pesquisadora do NUPEC

A trama acompanha Amanda, uma professora que leva uma vida comum nos moldes norte-americanos até ser diagnosticada com um tumor cerebral. No hospital, seu marido, Mike, é abordado por Gaynor, representante da Rivermind, uma empresa de tecnologia médica que oferece um implante cerebral Wi-Fi experimental. O dispositivo substitui a parte removida do cérebro e garante uma vida normal, mas depende de uma assinatura mensal. Embora a cirurgia seja gratuita, a manutenção envolve custos elevados, com pacotes que impactam diretamente a qualidade de vida de Amanda.

Com o pacote mais econômico, Amanda é assediada por “anúncios cerebrais” constantes, inviabilizando sua convivência social. Em um esforço desesperado para melhorar a condição da esposa, Mike começa a mutilar o próprio corpo em sites ilícitos para pagar pelo plano do implante: o Rivermind Lux, um plano sem anúncios.

O episódio critica à lógica neoliberal que transforma direitos básicos em produtos de mercado. A saúde, apresentada como um serviço por assinatura, reflete a realidade de muitos sistemas contemporâneos, nos quais o acesso e a qualidade do atendimento estão condicionados à capacidade de pagamento do indivíduo. A série expõe como a tecnologia, em vez de ser uma ferramenta de emancipação, pode ser cooptada por interesses corporativos para aprofundar desigualdades sociais. A dependência de Amanda em um sistema que a transforma em uma plataforma ambulante de publicidade ilustra a desumanização do indivíduo, reduzido a um meio de lucro.

De acordo com Byung-Chul Han (2015), o capitalismo contemporâneo força o indivíduo a se autoinstrumentalizar, perpetuando um ciclo de autovigilância e autoexploração. Amanda encarna esse indivíduo, transformada em uma plataforma ambulante de anúncios enquanto seu marido assiste impotente à invasão do capital na esfera íntima. A incapacidade de manter o pagamento é vista como um fracasso pessoal, refletindo a precarização da existência no neoliberalismo. A precarização da existência, conforme Han (2015), não é apenas econômica, mas envolve todas as camadas da subjetividade, incluindo o corpo, a mente e a própria identidade, transformando o sujeito em um “sujeito de desempenho”.

“Common People” é um espelho sombrio da sociedade contemporânea, onde a tecnologia e o capitalismo se entrelaçam para explorar vulnerabilidades humanas. O episódio desafia o espectador a refletir sobre os limites da mercantilização da vida e os perigos de um futuro no qual até a consciência humana pode ser monetizada.

🇬🇧 The plot follows Amanda, a teacher who leads an ordinary life until she is diagnosed with a brain tumor. At the hospital, her husband, Mike, is approached by a representative from Rivermind, a medical technology company that offers an experimental Wi-Fi brain implant. With the most economical package, Amanda is harassed by constant brain advertisements, preventing her from socializing.The episode criticizes the neoliberal logic that transforms basic rights into market products.

🇪🇸 La trama sigue a Amanda, una profesora que lleva una vida normal hasta que le diagnostican un tumor cerebral. En el hospital, su esposo, Mike, es abordado por un representante de Rivermind, una compañía de tecnología médica que ofrece un implante cerebral experimental con Wi-Fi. Con el paquete más económico, Amanda es acosada por constantes anuncios cerebrales, lo que le impide socializar.El episodio critica la lógica neoliberal que transforma los derechos básicos en productos de mercado.

🇨🇳 故事围绕着一位名叫阿曼达的老师展开,她原本过着平凡的生活,直到被诊断出患有脑瘤。在医院里,她的丈夫迈克遇到了一位来自Rivermind的代表,这家医疗科技公司提供实验性的Wi-Fi脑植入产品。 尽管选择了最经济的套餐,阿曼达却被持续不断的脑植入广告所骚扰,无法进行社交活动。 本集批判了将基本权利转化为市场产品的新自由主义逻辑。

Referências bibliográficas: HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Editora Vozes Limitada, 2015.

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